Quando o Lúdico Vira Polêmica: O Caso da Estudante que Comemorou o Aniversário de um Bebê Reborn

Entre a arte e o julgamento público
O que acontece quando um hobby criativo e emocional se torna alvo de escárnio nas redes sociais? Em tempos de internet acelerada e julgamentos instantâneos, até a mais inocente expressão de afeto pode virar motivo de ataque. Foi o que viveu Isabelle Rodrigues, uma jovem estudante de pedagogia de Curitiba, ao compartilhar a festa de “aniversário” de sua bebê reborn, Martina.
O evento, que envolveu bolo, docinhos e decoração temática, foi registrado em vídeo e acabou viralizando — mas não exatamente da forma que ela esperava.
A Festa que Deu o que Falar
Isabelle, de 23 anos, é influenciadora digital e colecionadora de bebês reborn desde os 14 anos. Ela mantém um canal em plataformas de vídeo onde compartilha conteúdos voltados ao público infantil e a outros colecionadores do nicho. A comemoração em questão, segundo ela, foi apenas uma brincadeira entre amigas que também se interessam por essas bonecas hiper-realistas. No entanto, a repercussão foi amarga: após a publicação do vídeo da festinha de Martina, a estudante recebeu centenas de comentários negativos e até agressivos.
A crítica mais comum? A acusação de que ela estaria tratando a boneca como uma criança real — algo que Isabelle nega com firmeza. “A gente sabe separar a fantasia da realidade. É uma arte, um hobby. Eu trabalho com isso”, declarou em entrevista.


Além do Boneco: Expressão Artística e Empreendedora
Isabelle não apenas coleciona os reborns como também aprendeu a confeccioná-los. Ela já teve mais de 20 bonecas, e hoje mantém sete em casa, incluindo a famosa Martina, que custou cerca de R$ 5 mil. A jovem se dedica à produção de vídeos lúdicos, muitos voltados ao público infantil, onde simula situações do cotidiano com seus reborns — algo comum entre criadores de conteúdo para crianças, como ela mesma apontou: “É como quem faz vídeo de faz de conta com super-heróis ou princesas.”
O que para alguns parece absurdo, para outros é arte. O universo dos reborns vai muito além da aparência física. Trata-se de um mercado milionário, onde as bonecas são feitas com detalhes extremamente realistas: veias, textura da pele, peso, cabelo implantado fio a fio. Algumas são confeccionadas em silicone sólido, outras em vinil, e os preços variam de R$ 1.000 a mais de R$ 10 mil.
A Linha Tênue entre Preconceito e Falta de Entendimento
O episódio expõe algo maior: a dificuldade de compreender práticas que fogem do padrão. Ao mesmo tempo em que colecionadores de carrinhos em miniatura, action figures ou itens de times de futebol são celebrados, mulheres adultas que demonstram afeto por bonecas são imediatamente infantilizadas ou patologizadas. Isabelle questiona essa diferença de tratamento: “Minhas amigas têm filhos de verdade. Isso aqui é hobby, é arte. É como quem coleciona pelúcia — ninguém diz que é um cachorro de verdade.”
A reação ao vídeo também revela a intolerância crescente nas redes sociais, onde a empatia parece escassa e o julgamento é rápido. Ainda que existam casos em que o uso de reborns possa indicar questões emocionais mais profundas — como já discutido em outro contexto — não se pode generalizar ou ridicularizar quem encontra neles uma forma legítima de expressão artística, emocional ou profissional.


Um Mercado em Expansão (e Alvo de Crimes)
O interesse pelos bebês reborn é tão forte que já movimenta lojas físicas e virtuais em todo o Brasil. Em Curitiba, inclusive, houve um caso de furto envolvendo esses itens: uma loja especializada teve 16 bonecas levadas por criminosos, com um prejuízo estimado de R$ 55 mil. O caso chamou atenção não apenas pelo valor, mas pelo tipo específico de produto que atraiu os bandidos — sinal claro de que o mercado está crescendo e se tornando cada vez mais valorizado.
O Direito ao Lúdico e ao Respeito
O caso de Isabelle mostra que há muito mais por trás de uma “festinha de boneca” do que o olhar superficial pode supor. Trata-se de arte, identidade, trabalho e, acima de tudo, liberdade de expressão. Em vez de julgarmos o que nos parece estranho, talvez seja hora de exercitarmos a empatia — e reconhecermos que o mundo seria menos pesado se todos tivéssemos um espaço seguro para brincar, criar e ser quem somos, sem medo de sermos ridicularizados.


Em meio a críticas e mal-entendidos, o caso de Isabelle Rodrigues nos lembra da importância de respeitar formas alternativas de expressão, afeto e criatividade. O universo dos bebês reborn, por mais peculiar que pareça para alguns, é, para outros, um espaço legítimo de arte, hobby e até de acolhimento emocional. Encerrar esse episódio com empatia é reconhecer que, por trás de cada boneca, há uma história, uma escolha e, muitas vezes, uma pessoa que encontra ali um jeito único de lidar com a vida, com carinho e com leveza.